Acredito que a grande maioria,
senão todas minhas atitudes, são do bem, não possuem maldade, até porque essa
palavra não faz parte do meu dicionário. Qual o porquê desta introdução? Talvez
uma tentativa de mostrar que às vezes, nas boas intenções, nos damos mal,
podemos praticar uma maldade contra nós mesmos.
Tudo
iniciou nas vésperas do dia dos namorados, observação, já deixei de tentar
entender porque nós, maridos, vivendo a vários anos com a parceira, temos que
dar presente neste dia. Afinal, não é o dia dos namorados? Já me dou presente
nos dias dos pais, dou no dia das mães, dia que conheci a parceira, dia que
noivei, dia que “juntei as escovas de dente”, fora o Natal, Páscoa e Aniversários
que não tenho escapatória; mas voltando ao assunto, pois esse é outro capítulo
que mereceria comentários.
Depois
das pressões sofridas, de que fazia muito tempo que não ganhava nada nesta
data, algumas revistas abertas em cima da minha cama com fotos da vítima, mais
ou menos 22 “dicas” da importância da vítima na vida dela, resolvi dar o tal
presente do dia dos namorados. Comprei um TABLET para minha mulher querida.
Depois
de breves momentos de surpresa por ter recebido o aparelho, seu maior sonho de
consumo, transbordava de alegria a ponto de eu achar que devia correr até a
farmácia e comprar uma bombinha daquelas para asma, mesmo ela não sendo
asmática, pois tive a impressão os pulmões tinham “colabado” na caixa toráxica
e não entrava oxigênio. A cor cianótica foi breve, logo o sangue voltou a
circular e a cor rósea apareceu. Ao menos não tive necessidade de comprar a tal
bombinha. Ela era só alegria, confesso que fiquei muito feliz por vê-la daquele
jeito, ao menos até segundos após o aparelhinho ser ligado, pois logo ela
correu para a sala onde temos o computador, a fim de conhecer melhor e aprender
todos os caminhos possíveis no tal Tablet. Foi á última vez que há vi nesse
dia, nem o jantar ela fez. Achei normal, pois o baque da “surpresa” foi
tamanha, que nada mais normal esquecer-se da vida no primeiro dia pós Tablet.
No
outro dia, lá do trabalho, ela me mandou umas 186 mensagens aproximadamente.
“Onde estás?” “Olha que foto linda “ele” tira” “Tem tantos joguinhos que não
imaginas” “Sabe aquele de abrir as portas? Tem também.” E por aí afora, sem
sossego de 10’.
Mas
tudo bem é o segundo dia, ela tem toda a razão de ficar eufórica. Veio a tarde
e não pude me encontrar com ela, tinha ido à casa da mãe mostrar seu novo
brinquedo. A noite chegou e a sala da TV dava medo, os guris no quarto vendo TV
e ela na salinha do PC manejando seu Tablet, enquanto eu e os gatos sozinhos
assistindo o noticiário. Fora o som da TV, dava para escutar um mosquito
voando. Pensei com meus botões, estamos no final do segundo dia, é normal que
ela esteja com a adrenalina alta, logo ela se acalma e tudo volta ao normal. Fui
dormir, sem janta novamente, peguei no sono, sozinho, depois de ler toda a
revista Veja e nada da mulher. Acordo no meio da madrugada, escutando alguns
sons desconhecidos, bip bip, plac plac, e outros que não conseguiria descrever.
Não sabia se estava sonhando, mas tais sons continuavam com meu despertar, e com
a luz do quarto apagada. Ao me virar para tentar identificar a origem dos
mesmos, ouvi aquele grito apavorante, vindo junto com um empurrão que quase me
derruba da cama: cuuiiidadooooo com o meuuuu TABLETTTTTTTT. Tive que ser muito macho para não me “cagar”
perna abaixo, acreditando que a mulher estava dormindo, me viro e acontece essa
tragédia! Os sons vinham do Tablet dela,
e eu tinha feito a burrada de me virar na minha própria cama sem aviso prévio.
Como sou desastrado.
Hoje,
estamos findando a primeira semana, a adrenalina dela continua nas nuvens.
Algumas coisas mudaram na nossa vida e várias regras surgiram na casa. As duas
poltronas da sala são utilizadas pelos gatos, o sofá agora é do Tablet. Se
quiser assistir TV sentado que pegue uma cadeira, das duras da cozinha, ou
sente num dos dois mochinhos que ela comprou, que originalmente foram feitos
para filhos de anões. Caso contrário só posso assistir TV de pé, ou quando o
aparelho estiver sendo manuseado pela dona.
Os
tais sons que me referi anteriormente já fazem parte da nossa noite, a
propósito, noite passada lembro que sonolento ainda ouvia um pik pik pik, que
julgava ser do Tablet, quando fui acordado pela patroa que numa voz enérgica
dizia: não vais colocar umas bacias nessas goteiras? Aí que dei conta que
desabava o mundo lá fora, uma chuva dos diabos, e os sons que ouvia eram das
três goteiras de estimação no quarto. Mais uma coisa a me preocupar agora,
identificar se os sons são do Tablet, das goteiras ou de algum ladrão tentando
arrombar a porta da frente.
Quanto as
minhas posições normais de deitar, uma pequena e leve mudança, se quiser virar
de lado na cama, devo primeiro me levantar e examinar se o tal “bichinho” não
esta entre ela e eu. Faz uma semana que durmo de costas para ela, pois de
frente a luminosidade do aparelho não me deixa confortável e os sons me deixam
puto.
Sexo?
Não tivemos esta semana. Talvez numa noite, quando descarregar a bateria, e no
intervalo entre ela colocar o mesmo na tomada e no tempo que ele leva pra
carregar a bateria. E como carrega rápido essa bosta! Mas prometo que vou
tentar no dia em que “ele” resolver ficar sem bateria antes dos morfeus me
agarrarem.
Apesar
de tudo, a vida continua, olhando pelo lado bom, emagreci 2Kg nesta semana de
jejum noturno. Estou me acostumando a dormir com sons estranhos. Consigo ficar
várias horas dormindo na mesma posição, coisa que era praticamente impossível
para mim. Recebo algumas informações importantes na madrugada, tipo, o casal X
vai se separar no próximo capítulo da novela; que a Gisele esta grávida; que em
Roma ou na Toscana, enquanto durmo lá já são 02hs e está muito quente. Essas
coisinhas...
O
importante é que estamos todos bem de saúde e sem brigas (desde que respeite
TODAS as regras), é claro.
Até
o próximo...