sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Restaurante de Campanha....


Tudo aquilo que ninguém imagina acontecer, na Rainha da Fronteira existe espaço suficiente para que fatos muitas vezes impossíveis aconteçam sem rodeios. Todos os viventes da fronteira sabem disso, e a história esta bem documentada neste tema. Então, aí vai mais uma para engrandecer nossa pitoresca história fronteiriça.
Conta a história que Edemundo, Arquiteto e proprietário de uma grande empresa de construção, das mais próspera em Bagé, foi pela primeira vez visitar uma obra de sua empresa, esta localizada na área rural do município.
                Acompanhava o arquiteto, seu mestre de obras e braço direito da empresa, responsável pela condução da obra em questão. Chegando à obra localizada a alguns quilômetros da cidade, Edemundo, tipo muito detalhista, percorre todo canteiro de obras, questionando item por item das obras, demandando bom tempo na fiscalização dos trabalhos realizados.
                Meio dia ficado para traz a bom tempo, relógio marcando 13:30hs, deu por encerrado a vistoria, satisfeito com que viu, não havia notado o adiantado da hora. Com o estomago encostando no espinhaço, questiona seu funcionário sobre como almoçar nessa hora. Como era domingo, e as obras estavam interrompidas, não havia cozinheiro no canteiro de obras, portanto, nada de bóia por ali conseguiria. Depois de uma breve consulta a um peão da fazenda que fora acordado da sesta, um tanto contrariado que nem gato a cabresto, o peão explica ao Dr que a poucos quilômetros no retorno a Bagé, encontraria um pequeno restaurante, com certeza um bom almoço encontraria.
                Satisfeitos pela informação de que teriam como aplacar os reclamos do estomago, partem em direção ao restaurante. Depois de alguns minutos e vários quilômetros percorridos chegam ao destino. Para desânimo dos famintos, as portas do dito cujo, estavam fechadas e o silêncio imperava.
                Não se dando por vencido, o empresário solicita ao funcionário que bata na porta e tente ver se não abrem uma exceção e façam um almoço gostoso. Alguns minutos de batida foi o suficiente para que apareça a porta o proprietário, escabelado e inchado pelo tempo de sono profundo, e cumprimenta as visitas. De pronto o mestre de obras explica a situação e pergunta se o homem não poderia fazer uma refeição, pois estavam varados de fome.
                Com cara de poucos amigos, abre mais a porta e pede aos famintos entrarem. Num grito seco e alto diz:
                - Véiaaaaa. Acorda e vem cá!!
                Sua esposa aparece, coitada, também amarrotada pela sesta, cabelos brancos, desarrumados, faz um sinal com a cabeça em sinal de respeito e houve do marido:
                - Os homis tão com fome, faz uma comida rápido pra eles.
                Aproveitando a deixa, o doutor diz:
                - Um bife no ponto com batatas fritas e arroz já é suficiente.
                - Poderia me trazer uma água com gás?
                - Não tem!
                Confessa o proprietário.
                - Então me traga um refrigerante de litro, replica o arquiteto.
                - Também não tem!
                Rebate o homi.
                - Bueno, se não tem água com gás nem refrigerante me traga água gelada mesmo, sentencia o empresário.
                - O senhor tem pão e queijo, continua o exigente freguês...
                - Não tem!
- Só tenho bolacha castelhana, responde o chefe...
- Que venha então um pouco. E me traga aquela lata de milho que to vendo em cima da geladeira...
Num sopetão, aparecem as bolachas e a lata de milho, esta, aberta na frente deles com uma faca que estava descansando na cintura do vivente.
Ao se afastar para cozinha ver como estava os preparo do alimento, ainda houve uma última exigência.
-Por favor, peça pra comadre fazer uns 4 ovos fritos também!  Sentencia o Arquiteto.
Passado um tempito, aparece a cozinheira com dois maravilhoso bifes, grandes e suculentos. Os dois famintos comeram num silêncio tamanho que acusava a gostosura no desfrute do almoço.
Depois de alguns minutos saboreando aquele manjar, pergunta o freguês:
- Que temos de sobremesa?
- Só tem um pedaço de mugango na geladeira.
- Serve?  Questiona o homi.
- Se vier acompanhado de leite pode trazer 2, determina Edemundo.
- Véia, traz o Mugango e dois copos de leite pros homi aqui. Ligeiro!
- Num sapoitê, a Chef da cozinha chega com o pedido.
Matando quem queria os matar, o empresário sentindo-se muito satisfeito, diz:
- Como o senhor se chama?
- Ramão!
- Seu Ramão, queria parabenizar sua comida. Apesar de lhe pegar sesteando, e com a cozinha um tanto desfalcada de mantimentos e bebidas, o senhor nos proporcionou um almoço muito gostoso. Parabéns.
- Obrigado! Um seco e curto, que nem coice deporco, saiu de vereda da sua boca.
Finaliza então o Arquiteto e seu Mestre de Obras:
- Vou seguir meu caminho seu Ramão, desculpas por acorda-lo da sesta, mas a fome era grande...
- Quanto lhe devo?
- Nada! Responde Ramão.
- Como nada seu Ramão? Não posso deixar de lhe pagar pelo excelente almoço e sobremesa.
- Empresário de sucesso que era, o Arquiteto não perdeu tempo para prestar um ajutório de lições de economia ao seu Ramão:
- Me desculpa lhe dizer uma coisa meu senhor, talvez aí esteja a razão do senhor não ter muita coisa para oferecer no seu restaurante. O senhor não que cobrar pelos seus serviços.
- E quem lhe disse que aqui é restaurante? O restaurante fica a 2 Km logo adiante. Aqui é minha casa e não cobro bóia na minha casa.
- Boa tarde! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário