quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Saí por cima...


         Na verdade, até hoje não sei o porquê de ter feito Medicina Veterinária; talvez um pouco de pressão familiar, outro tanto por acreditar que deveria seguir os passo do pai e trabalhar no campo, e um tanto por covardia, enfrentar o vestibular de medicina era foda . O importante é que acabei me tornando “Médico Veterinário” (grande coisa!).
                Os da família sabem muito bem a quem recorrer nos casos de doenças dos animais de suas propriedades, que são muitos, um povo que convive com gatos e cachorros o dia inteiro, recorrem a qualquer veterinário de plantão, menos a mim. Que fazer, não confiam em mim profissionalmente, e até eles tem suas razões , pois sou um péssimo profissional, medicamente falando,  pois sempre gostei dos animais e os trato muito bem, isso ninguém pode negar.
                Mas de que adianta este pequeno introito?
 Não adianta pra nada com certeza, a não ser encher espaço neste texto.
O importante agora é contar alguns episódios que aconteceram com este “profissional” nos momentos em que foi chamado a colocar seus conhecimentos a prova, isto depois de muitas recusas e ausências de outros profissionais para resolver o problema. Fatos que me levaram e honrar meu juramento de formatura: “nunca recusar, em hipótese alguma, nem por motivo nenhum, deixar de dar assistência a um animal enfermo”. Que merda, sem alternativas, lá foi o médico veterinário a cumprir suas obrigações.
O primeiro que me vem á memória, foi a castração de um cavalo na estância de um médico aposentado, homem “mui” sistemático, de poucas palavras e muitos conhecimentos, ao menos ele acreditava ter tantos assim. Não sei o porquê, mas o velho embestou que eu deveria castrar o potranco, filho de sua égua de estimação. Desejava que a criatura tivesse uma cirurgia feita por um profissional competente, e este profissional competente era EU!!!!!
Sem mais opções, nem desculpas consistentes, me fui a propriedade rural do “doutor”, fazer a pequena cirurgia no tal potranco. Antes, fui informado pelo proprietário que seu capataz José, era uma jóia de funcionário, pois trabalhava na fazenda a mais de 15 anos, e nestes anos todos, muitos cursos já tinha feito na área rural, tipo: inseminação artificial, pequenas cirurgias, diagnóstico de gestação, entre outros.
Aquilo de vereda já me deixou nervoso. Será que esse cara não sabe mais que eu? Meus 5 anos de faculdade  naquele momento balançaram, e a preocupação se fez presente. Será que esse cara não sabe mais que eu mesmo? Por que eu para castrar o potranco? Será que o patrão, o médico posudo, queria desmoralizar todos os veterinários, mostrando que seu capataz sabia mais que eu? Eu era o escolhido para seu plano senil?
Bateu uma insegurança das brabas. Devo alertar o médico que não sou tudo isso que ele pensa? Existem veterinários melhores e melhores que eu aos montes por aí?
O pior que já estava na propriedade e tinha um compromisso a cumprir. O jeito era dar uma de superior, de médico veterinário, de “eu sei tudo” e pqp...
Chegando ao palco do espetáculo, a mangueira da fazenda, tentei não dar a mínima para o ar de superior de capataz, que fazia um olhar de soslaio para meu lado, e resolvi dar uma de superior;  tragam logo o potranco que tenho mais outras cirurgias a fazer. Com minhas palavras senti certo ar de respeito do capataz “veterinário” pro meu lado. Já sem pestanejar soltei a sentença: tragam o potranco, derrubem sem machucá-lo, imobilizem e deixem que resolvo o resto. E, se por acaso não souberem nem imobilizar o animal que saiam da mangueira que faço tudo sozinho. Não sabia que podia “blefar” tão alto assim. Fiquei com vontade de ir pra LAS VEGAS fazer umas apostinhas, tal o peito do vivente.
Consegui com minhas palavras galgar alguns degraus acima do “capataz entendido”, do médico metido a besta. Num upa, o potranco já estava no chão, maneado e pronto para a cirurgia. O palco estava pronto para o “Pitangui” aqui usar suas habilidades
Após a assepsia, sempre com o olhar do capataz em cima de mim, dou início a cirurgia.
Foi nesse momento, ao exteriorizar os testículos da vítima, que o capataz me diz:
Dr. O senhor sabia que um ovo é positivo e outro negativo? Retirando as mãos rapidamente, pois tenho pavor de choque, disse: juro que não sabia. Obrigado.
“Dali” em diante tomei as rédeas da situação, pensei comigo, se vou perder para um cara que acredita que um testículo tem carga positiva e o ouro carga negativa, nunca vou ganhar de ninguém...
Até o próximo...

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