Na verdade, até hoje não sei o
porquê de ter feito Medicina Veterinária; talvez um pouco de pressão familiar,
outro tanto por acreditar que deveria seguir os passo do pai e trabalhar no
campo, e um tanto por covardia, enfrentar o vestibular de medicina era foda . O
importante é que acabei me tornando “Médico Veterinário” (grande coisa!).
Os
da família sabem muito bem a quem recorrer nos casos de doenças dos animais de
suas propriedades, que são muitos, um povo que convive com gatos e cachorros o
dia inteiro, recorrem a qualquer veterinário de plantão, menos a mim. Que
fazer, não confiam em mim profissionalmente, e até eles tem suas razões , pois
sou um péssimo profissional, medicamente falando, pois sempre gostei dos animais e os trato
muito bem, isso ninguém pode negar.
Mas
de que adianta este pequeno introito?
Não adianta pra nada com certeza, a não ser
encher espaço neste texto.
O importante
agora é contar alguns episódios que aconteceram com este “profissional” nos
momentos em que foi chamado a colocar seus conhecimentos a prova,
isto depois de muitas recusas e ausências de outros profissionais para resolver
o problema. Fatos que me levaram e honrar meu juramento de formatura: “nunca
recusar, em hipótese alguma, nem por motivo nenhum, deixar de dar assistência a
um animal enfermo”. Que merda, sem alternativas, lá foi o médico veterinário a
cumprir suas obrigações.
O primeiro que
me vem á memória, foi a castração de um cavalo na estância de um médico
aposentado, homem “mui” sistemático, de poucas palavras e muitos conhecimentos,
ao menos ele acreditava ter tantos assim. Não sei o porquê, mas o velho
embestou que eu deveria castrar o potranco, filho de sua égua de estimação.
Desejava que a criatura tivesse uma cirurgia feita por um profissional
competente, e este profissional competente era EU!!!!!
Sem mais
opções, nem desculpas consistentes, me fui a propriedade rural do “doutor”,
fazer a pequena cirurgia no tal potranco. Antes, fui informado pelo
proprietário que seu capataz José, era uma jóia de funcionário, pois trabalhava
na fazenda a mais de 15 anos, e nestes anos todos, muitos cursos já tinha feito na
área rural, tipo: inseminação artificial, pequenas cirurgias, diagnóstico de
gestação, entre outros.
Aquilo de
vereda já me deixou nervoso. Será que esse cara não sabe mais que eu? Meus 5
anos de faculdade naquele momento balançaram, e a preocupação se fez presente. Será que esse cara não sabe
mais que eu mesmo? Por que eu para castrar o potranco? Será que o patrão, o
médico posudo, queria desmoralizar todos os veterinários, mostrando que seu
capataz sabia mais que eu? Eu era o escolhido para seu plano senil?
Bateu uma
insegurança das brabas. Devo alertar o médico que não sou tudo isso que ele
pensa? Existem veterinários melhores e melhores que eu aos montes por aí?
O pior que já
estava na propriedade e tinha um compromisso a cumprir. O jeito era dar uma de
superior, de médico veterinário, de “eu sei tudo” e pqp...
Chegando ao
palco do espetáculo, a mangueira da fazenda, tentei não dar a mínima para o ar
de superior de capataz, que fazia um olhar de soslaio para meu lado, e resolvi
dar uma de superior; tragam logo o
potranco que tenho mais outras cirurgias a fazer. Com minhas palavras senti certo
ar de respeito do capataz “veterinário” pro meu lado. Já sem pestanejar soltei
a sentença: tragam o potranco, derrubem sem machucá-lo, imobilizem e
deixem que resolvo o resto. E, se por
acaso não souberem nem imobilizar o animal que saiam da mangueira que faço tudo
sozinho. Não sabia que podia “blefar” tão alto assim. Fiquei com vontade de ir
pra LAS VEGAS fazer umas apostinhas, tal o peito do vivente.
Consegui com
minhas palavras galgar alguns degraus acima do “capataz entendido”, do médico
metido a besta. Num upa, o potranco já estava no chão, maneado e pronto para a
cirurgia. O palco estava pronto para o “Pitangui” aqui usar suas habilidades
Após a
assepsia, sempre com o olhar do capataz em cima de mim, dou início a cirurgia.
Foi nesse
momento, ao exteriorizar os testículos da vítima, que o capataz me diz:
Dr. O senhor
sabia que um ovo é positivo e outro negativo? Retirando as mãos rapidamente,
pois tenho pavor de choque, disse: juro que não sabia. Obrigado.
“Dali” em
diante tomei as rédeas da situação, pensei comigo, se vou perder para um cara
que acredita que um testículo tem carga positiva e o ouro carga negativa, nunca
vou ganhar de ninguém...
Até o
próximo...
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