sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Divagando na Mionese III. As Vidraças...

Eles começaram suas vidas mantendo as vidraças de casa sempre limpas. As lavavam e limpavam periodicamente, com isso podiam ver tudo claramente de dentro, e também para aqueles que se atrevessem a olhá-los, os enxergassem como são.
Acontece que o tempo passa, e muito rapidamente cobra no seu percurso a exposição verdadeira de suas vidas. A cobrança do verdadeiro vem a galope, as máscaras caem, os impulsos arrefecem, e por fim a amizade força a compreensão e doação. Acompanha esta fase o desleixo com a limpeza das vidraças, não sabem eles ao certo se é para que não enxerguem o que ta acontecendo lá fora, ou se é auto-proteção aos que olham, com suas críticas.
Aí vem aquele sentimento de preservação, e eles tentam esquecer que existem vidraças em casa, não chegam perto delas, pois é mais cômodo não vê-las, e não ser obrigado a limpá-las ou trocá-las. O tempo, as intempéries muitas vezes deixam marcas que nem a água e o solvente conseguem remover, então para que se preocupar com elas?
Por outro lado, eles sabem que, para limparem suas vidraças alguns riscos vão correr, podem não enxergar mais nada do outro lado ou ficarem invisíveis do lado de dentro. Quem sabe deixar a higiene delas para a chuva? Quando ela vem forte da uma frágil limpada, uma pequena melhorada e os confortam, pois acreditam, ou tentam acreditar, que não possuem mais aquele desejo de ficar olhando pela vidraça tentando ver coisa lá na frente.
Pena que existam as diferentes estações do ano pensam eles, pois seria mais fácil retirar as vidraças da casa e tudo seria cômodo, mas existe o inverno, o vento, a poeira, que os obrigam a colocar vidraças na sua casa. Com certeza seria melhor esta providência, mais cômoda e alienada também. Mas eles são assim, e pensam que as grandes maiorias o são, abdicam de limpar suas vidraças, esquecer que elas existem, e tocar a vida de uma maneira “adulta e profissional”.
Eu confesso que examinado suas vidas aqui do lado de fora, como tratam de suas vidraças, não consigo palpitar, pois os riscos e perdas se chocam de tal maneira com o comodismo e tranqüilidade, que bate uma baita sensação de que tudo isso é o que dizem ser a inclusão no “politicamente correto”. Quem sou eu para contestar isso?
Até o próximo...

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